Encontrou um carro usado com um preço muito abaixo da FIPE, anunciado como “carro de repasse“? A oferta pode parecer tentadora, mas cuidado: essa “oportunidade” pode esconder uma prática ilegal e te trazer um prejuízo enorme.
Entenda o que realmente significa “carro de repasse“, por que o preço é tão baixo, quais os riscos (inclusive legais!) e como se proteger para não transformar o sonho do carro barato em um pesadelo.
O Que Significa “Carro de Repasse”?
O termo “carro de repasse” não tem uma definição oficial no Código de Trânsito. No mercado, ele geralmente é usado em duas situações:
- Entre Lojistas (Contexto Profissional): É comum que concessionárias e grandes lojas comprem carros usados (em trocas, por exemplo) que não interessam para revenda direta ao consumidor (por serem mais antigos, precisarem de muitos reparos, etc.). Esses carros são então “repassados” por um preço baixo para lojistas menores ou comerciantes que irão consertá-los antes de revender. Nesse contexto, entre empresas, a prática é comum.
- Para o Consumidor Final (Contexto Problemático): É aqui que mora o perigo! Algumas lojas ou vendedores (inclusive particulares) usam o termo “carro de repasse” para vender veículos com problemas conhecidos (mecânicos, elétricos, de documentação) por um preço muito baixo, sem oferecer a garantia legal e usando a desculpa de que está sendo vendido “no estado em que se encontra”.
Por Que o Preço do Carro de Repasse é Tão Baixo?
O preço “camarada” do carro de repasse tem um motivo (ou vários):
- Problemas Mecânicos/Elétricos: Geralmente são carros que precisam de reparos significativos no motor, câmbio, suspensão ou parte elétrica.
- Problemas Estéticos Graves: Podem ter danos extensos na lataria, pintura ou interior.
- Sem Garantia (Ilegal para Lojistas!): O principal fator que “justifica” o preço baixo é a tentativa do vendedor de se isentar da garantia.
- Histórico Problemático: Muitas vezes são carros com passagem por leilão (sinistro, financeira), com alta quilometragem ou com outras “marcas” no histórico.
- Necessidade de Reparos Imediatos: O vendedor “repassa” o problema (e o custo do conserto) para o comprador.
Os Riscos de Comprar um Carro de Repasse (Para o Consumidor)
Comprar um carro de repasse anunciado “no estado” ou “sem garantia” por um profissional (loja, concessionária) é um grande risco e, muitas vezes, ilegal:
- Assumir Problemas Ocultos: Você compra o carro e todos os problemas que ele tiver (visíveis ou não) são sua responsabilidade. O custo do conserto pode superar (e muito!) a “economia” na compra.
- Violação do Código de Defesa do Consumidor (CDC): O CDC (Lei nº 8.078/1990) obriga os fornecedores profissionais a darem uma garantia legal mínima de 90 dias para bens duráveis, como carros usados (Art. 26). Vender “sem garantia” para o consumidor final é uma prática abusiva e ilegal (Art. 18, 24, 25, 51).
- Dificuldade de Revenda: Um carro comprado como “repasse” e com histórico problemático será muito difícil de revender no futuro.
- Problemas de Documentação: Podem existir débitos ou restrições não informados que impedirão a transferência.
E se for venda particular? A garantia legal do CDC não se aplica entre particulares, mas o vendedor ainda pode ser responsabilizado por vícios ocultos (defeitos graves que já existiam e não foram informados), conforme o Código Civil.
Como Identificar e Se Proteger do “Golpe do Repasse”
- Desconfie do Preço: É o primeiro sinal. Preço muito abaixo da FIPE? Abra o olho!
- Termos no Anúncio: Fique atento a expressões como “repasse“, “no estado em que se encontra“, “sem garantia“, “abaixo da FIPE“.
- Vendedor Insistente: Se o vendedor (especialmente loja) insistir que não dá garantia, fuja! Ele está tentando burlar a lei.
- Inspeção Minuciosa: Leve seu mecânico de confiança para avaliar o carro completamente.
- Vistoria Cautelar: Altamente recomendada. Ela verifica a estrutura e a originalidade, podendo identificar reparos mal feitos ou danos graves.
- Consulta Veicular COMPLETA: Fundamental!
Consulta Veicular: A Verdade por Trás do “Repasse”
A consulta veicular é sua melhor defesa contra um carro de repasse problemático. Consulte a placa (consultar placa de veículo, consulta placa veiculo) e descubra:
- Proprietário anterior: Verifique quem foi o proprietário anterior do veículo.
- Recall Pendente: Verifica se existem recalls pendentes ou veículo bloqueado
- Sinistros: Verifique se o veículo teve algum sinistro.
- Passagem por Leilão: Descubra se o veículo já passou por algum leilão e foi recuperado.
- Roubo ou furto: Verifique se o veículo foi roubado ou furtado e teve o chassi remarcado em função do roubo.
- Pendencias Financeiras e Judiciais: Verifique se o veículo tem problemas para ser transferido: IPVA, licenciamento, multas (em todos os órgãos, incluindo os de outros estados – multas RENAINF), Restrições Judiciais (Renajud), administrativas, financeiras.
- Busca e Apreensão: Se o carro tem um mandado de busca e apreensão ativo.
- Indício de Bloqueio: Aponta se o veículo foi objeto de algum tipo de solicitação de bloqueio, seja por busca e apreensão, dívidas, questões judiciais ou outros motivos que podem impedir a transferência ou circulação
Não confie só na palavra do vendedor! A consulta veicular mostra os fatos.
Conclusão: Carro de Repasse? Só com Muita Cautela (e Consulta)!
Carro de repasse pode até parecer uma oportunidade, mas geralmente significa problemas e falta de garantia. Lembre-se: lojas e concessionárias são obrigadas a dar garantia legal pelo CDC.
Se encontrar um carro de repasse, desconfie do preço baixo, investigue tudo, leve seu mecânico, faça a vistoria cautelar e, obrigatoriamente, faça a consulta veicular completa. Na maioria das vezes, o barato sai muito caro.